A APROXIMAÇÃO

10/01/09

A aproximação é dos processos de caça maior mais apaixonante e desportivo se comparado com os restantes processos. Através dele o caçador tem a possibilidade de se deslocar livremente pelos terrenos de caça, apreciando todo o ambiente que o rodeia, mas sempre tentando vislumbrar os mais leves e distantes movimentos ou pormenores que possam não fazer directamente parte do meio envolvente. Este é o processo de caça, por excelência para todo o tipo de cervídeos (Veados, Gamos e Corços) e para os carneiros (Muflão).

 Para se poder ter algum sucesso na caça de aproximação é fundamental que se escolha criteriosamente o equipamento a utilizar e se tenham algumas precauções ou cuidados, sob pena de podermos passar vários dias no terreno sem pormos a vista em cima de qualquer bicho.

     Começamos pela escolha da indumentária:

     Apesar de não ser necessário usar qualquer traje específico (como muitos caçadores gostam de usar durante as montarias), é no entanto fundamental usar roupa de tons neutros ou escuros ( preferencialmente em tons de verde seco; há quem prefira camuflados do tipo Realtree para melhor se confundir com o ambiente, mas por favor não use camuflados de tipo militar), e se possível silenciosa - todos os animais que se encontram na Natureza conhecem os sons naturais e distinguem perfeitamente os rumores provenientes da roupa;  casacos encerados ou ruidosos como muitos abrigos impermeáveis são de evitar a todo o custo.

    Depois, o calçado tem tanta importância como a roupa. Este deve ser confortável, feito ao pé ( não use calçado  que não esteja "amaciado", sob pena de não conseguir andar ao cabo de algumas horas), com sola de borracha anti-derrapante ( pode ter que passar por pedras ou rochedos húmidos ou com musgo) e , tal como a roupa, silencioso.

    Continuemos com o equipamento:

    Aqui a regra é a de o mínimo possível, ou apenas o essencial. Arma do calibre e sistema com que o caçador esteja mais familiarizado, equipada com mira telescópica de ampliações variáveis ( 3 a 9 ampliações é o ideal) com retículo fino do tipo Plex e regulada no mínimo para 180m ( distância de regulação - DRO - para os calibres médios) e bandoleira suficientemente larga no apoio do ombro para maior conforto no transporte da arma durante as deslocações. Uma pequena cartucheira de bolso ou de cinto com 6 munições (pessoalmente não transporto mais do que três), para além das que seguem no carregador da arma, e um par de binóculos leves  (compactos) de 7 ou 8 ampliações, providos de correia de transporte para poderem ser transportados ao pescoço. Uma pequena faca de caça para as eventualidades - cortar um ramo, capar uma rês ou esventrar um animal - e se tal for absolutamente necessário um bastão de madeira  (para auxiliar em terrenos mais difíceis ou servir de apoio de tiro ) ou um apoio de tiro em alumínio e telescópico ( para ser leve, silencioso e fácil de transportar).

     E com a preparação para o acto:

     Fundamental é conhecerem-se os hábitos e costumes  da espécie que vamos caçar, para sabermos onde devemos procurar, bem como os seus momentos de maior actividade. Sendo que os momentos de maior actividade para os cervídeos são o crepúsculo da manhã e o da tarde bem como 2 a 3 horas depois e antes, e normalmente preferem as zonas abertas e despejadas de mato para se alimentarem, não valerá a pena andarmos a desperdiçar energias, no campo, entre as 10.00 e as 18.00 horas. Igualmente importante é conhecer-se a fisiologia do animal que vamos procurar, especialmente as marcas de presença que normalmente deixam no terreno - tente identificar os rastos com a ajuda de quem conhece ou consultando documentação apropriada ( não esqueça a NET).

A imagem acima mostra-nos a comparação entre os rastos de algumas espécies  - Veado, Javali e Corço, sendo estas as que mais vulgarmente de caçam de aproximação em Portugal.

     Ora, finalmente e estando na posse de tudo o que faz falta - equipamento e conhecimento - vamos lá então para o campo, e não nos esqueçamos de observar mais alguns procedimentos:

    1)  Conhece bem a região onde vai caçar ? Se sim, então vá sozinho e leve consigo um telemóvel (em modo silêncio) ou um rádio pois pode acontecer algum acidente e precisar de ajuda urgente. Se não, então faça-se acompanhar por alguém que conheça bem a zona, ou no caso de caçar numa zona de caça ordenada, faça-se acompanhar pelo Guarda da mesma. Aquele ou este serão certamente as pessoas que melhores indicações lhe poderão dar; converse previamente com ele, transmita-lhe os seus desejos para a caçada ( qual o tipo e qualidade de animal que deseja caçar, como deseja deslocar-se de umas zonas para outras, quanto tempo aguenta a andar e até que distância se sente confortável a atirar, por exemplo) e, quando no campo, ouça as suas sugestões e comentários; vai ver que não só aprende como lhe facilitará imenso a tarefa.

    2) Esteja no campo o mais cedo possível para poder encontrar os animais descansados (antes do nascer do Sol, se de manhã, ou por volta das 16.00 horas se de tarde).

    3) Quando no campo e em acto de caça tenha sempre em atenção a direcção de vento. Deslocar-se com o vento frequentemente pelas costas implicará que todos os bichos o possam sentir antes que os veja. Não se esqueça que o olfato é uma das principais defesas dos animais bravios.

    4) Quando em andamento, desloque-se o mais lentamente possível,  sem bater os pés no chão e procurando sempre encobrir-se com a vegetação existente ou com o relevo do terreno. Não utilize estradas ou caminhos pois daí sabem todos os bichos que vem gente.

    5) Faça paragens frequentes para observar o ambiente circundante com a ajuda dos binóculos. É preferível observar muito e andar pouco, do que o contrário.

    6) Procure fazer as suas movimentações sempre o mais alto possível no terreno. Todos os cervídeos espantados ou em fuga têm tendência a procurar os lugares mais altos, para melhor observarem o perigo.

    7) Tente pensar comos os animais. ( onde posso estar mais defendido? Onde poderei mais facilmente sentir qualquer perigo? Onde está a melhor comida ou aquela que mais gosto?).

    8 ) Esteja atento às marcas de presença ( rastos, esfregados em arvores ou arbustos, ramos partidos ou trincados, lameiros, etc.) e tente aperceber-se se são recentes ou antigos (infelizmente só a experiência de muitas horas passadas no campo atrás dos animais nos permitirá distinguir uns dos outros).

    9) Quando encontrado o animal que deseja caçar e antes de se decidir pelo tiro observe cuidadosamente o troféu para ter a certeza que é aquele que deseja. Não se preocupe se este se for embora; mais tarde ou no dia seguinte encontrá-lo-á na mesma zona, já que maioria dos cervídeos é territorial.

    10 ) No momento de atirar procure um apoio estável ( árvore, arbusto, pedra ou o apoio que levou) e tente acalmar-se. Não se esqueça que em 95% das situações só tem possibilidade de fazer um tiro e com ele tem de conseguir o que quer.

 Marca de presença de cervídeos. Troncos esfregados para marcação de território.

 Resta-me referir, que se tiver em conta os procedimentos enunciados terá  melhores resultados nas suas caçadas e verá que a sua satisfação, como caçador, aumentará proporcionalmente.

Pessoalmente devo dizer que aprendi muito com as  gentes do campo : guardas de coutos, caçadores locais e inclusivamente furtivos. Enquanto organizador e guia de caça nas aproximações a veados, gamos e muflões, incutindo estas regras nos caçadores, pude obter uma taxa de sucesso total ( 100%), conseguindo cobrar os animais no tempo mais curto possível. E sempre cumprindo com as normas de conduta desejáveis e com as normas legais em vigor para o processo de caça.

   Só posso pois desejar a todos os maiores sucessos venatórios.

 

 

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Este site foi actualizado pelo última vez em 10/01/09