O SALTO

 

 

 

      

     O processo de caça "de Salto" é provavelmente aquele que todos os caçadores conhecem. O regulamento da caça em vigor define este processo como  "aquele em que o caçador se desloca para procurar, perseguir ou capturar exemplares de espécies cinegéticas que ele próprio levanta, com ou sem auxílio de cães de caça". No entanto, o processo é vulgarmente utilizado sobre a caça menor e constitui, por si, o processo de caça mais natural  e mais vulgar para todos os praticantes da caça. Ora, tratando-se de caça maior, a mesma legislação refere que este processo só é permitido para o javali, pelo que as restantes espécies, apenas podem ser caçadas por montaria, batida, espera e aproximação. E contrariamente à ronda este processo só pode ser praticado de dia e, apesar de tudo, com arma de fogo.

     Tratando-se de uma processo de caça com características tão especiais  para o javali, é um método muito pouco vulgar e pouco usado no nosso país. Sendo limitado o número de caçadores e bem assim o número cães,  este processo torna-se incerto pelos resultados sempre duvidosos que é possível  obter.

     No Norte de Espanha, por exemplo, o processo tem grandes tradições e onde se designa por caça de javalis com cães à trela na qual as raças de cães dominantes são as de rasto - onde predominam os sabujos - e não as normalmente destinadas a outros tipos de caça como a montaria.

     Mas não se pense que para caçar javalis de salto baste querer  e ter os cães necessários e apropriados. Sob pena de (como dizíamos para a caça de aproximação) se passarem dias no campo sem se pôr a vista em cima de um javali. Assim o caçador  de javalis de salto  deve:

      - Ter um perfeito conhecimento da espécie, por forma a saber procurar os locais onde encamam em diferentes épocas do ano, os javalis que vai caçar que, no   caso presente se volta a referir, devem ser apenas machos e adultos; pelo que será de evitar a todo o custo perturbar fêmeas paridas ou com crias .

     - Conhecer "como as suas mãos" a zona ou região onde vai caçar, a qual forçosamente terá de ter mato ou coberto vegetal que possibilite o encame dos javalis. Uma região "limpa" ou com mato novo ou rasteiro, seguramente que não proporciona defesa e coberto suficiente para ter encames.

      - Saber escolher os cães ideais para este processo de caça e consequentemente treiná-los especificamente para este efeito uma vez que, dependendo da vegetação e da topografia da zona e sendo o número de cães limitado, a utilização de cães inapropriados pode constituir um factor de risco quer quer os primeiros quer para os próprios caçadores.

      - Considero igualmente importante  escolher a companhia com se caça, pelos que os nossos acompanhantes devem   conhecer muito bem a zona e porque muitas vezes se tem cobrar o javali a tiro (por não ser possível fazê-lo de outra forma), quando frequentemente este tem os cães"em cima"  ou muito próximo, quando em perseguição. Nestas condições é necessário ter muito discernimento e cuidado porque é preferível perder um javali do que matar ou ferir um cão, ou por os companheiros em perigo.

      - Finalmente é recomendável que alguém no grupo tenha conhecimentos de veterinária pois é frequente haver cães feridos pelos javalis e  se necessitar de intervenções urgentes no local, sob pena de algumas feridas poderem provocar a morte dos cães.

      Pelo que se referiu, verifica-se que se trata de um processo de caça apenas para puristas, ou se preferirem, para um grupo muito restrito de caçadores. Os resultados para além de incertos são sempre seguramente escassos.

     Quando os cães, encontram um javali a primeira coisa que fazem é assinalarem, através de ladras, a sua presença. Neste caso os caçadores devem dispor de uma excelente forma física pois têm de se deslocar rapidamente para o local, em auxílio dos cães. Se entretanto acontecer o javali se levantar do encame, a perseguição pode demorar horas seguidas até que o perseguido se canse de fazer frente aos perseguidores, até que os perseguidores o consigam dominar ou ainda, até que o caçador consiga cobrar a presa a tiro. Quando tal não acontece, isto é, quando aos cães conseguem dominar o animal  e o agarram, há que entrar a rematar de faca pelo que todos os participantes neste processo devem todos ser portadores de uma faca de remate.

      Manda ainda a ética e o código de conduta (não escrito, mas passado verbalmente de geração em geração) que sempre que os cães levantem uma fêmea se deva terminar imediatamente a perseguição, segurando os cães o melhor possível e deixando o animal partir em paz. Este facto implica que haja sempre um caçador o mais próximo possível dos cães e, obviamente bastante conhecedor da espécie para poder aperceber-se se se trata de um macho ou de uma fêmea. Lembremos que os cães de caça não  distinguem o sexo das suas presas.

      Em Portugal desconheço se o processo é ou foi sequer alguma vez utilizado e em caso afirmativo considero que apenas seja possível em zonas de caça ordenada e de grande extensão. Porque o processo só pode ser utilizado no período da caça geral,  a sua pratica em terrenos não ordenados torna-se, no mínimo, altamente perigosa porque nas mesmas manchas de mato podem encontrar-se caçadores a caçar ao javali com armas de fogo carregadas exclusivamente com bala e outros caçadores perseguindo, eventualmente, a caça menor.

                                                                                                                      

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