INSPEÇÃO DE CARNE DE CAÇA

 

A inspecção da carne de caça tem-se revelado, nos últimos anos, como uma necessidade mais do que imperiosa quer no que se refere à caça maior quer para a caça menor.

O caçador actual tem desprezado esta necessidade e muitas vezes, sem sequer se aperceber como, paga com a própria saúde os erros cometidos no dia a dia da sua actividade campestre.

Vários são os argumentos que se ouvem todos os fins de semana provenientes de organizadores e caçadores para que esta inspecção não se pratique. No entanto e se para a caça menor o problema não se põe de forma tão premente, para a maior a  questão já é mais séria porque as consequências podem ser bastante graves.

Depois e porque estas consequências não são imediatas e as doenças transmitidas pela carne dos animais bravios não se fazem sentir senão ao cabo de algum tempo, mais se convencem os caçadores que não há problema nenhum. Mas quando o problema se detecta é já tarde demais, e as suas consequências são, frequentemente, irreversíveis.

 

Até há alguns anos atrás esta necessidade não era considerada porque se por um lado o estado sanitário das populações animais era muito mais saudável, por outro o conhecimento técnico/científico do caçador médio era praticamente nulo e como refere o ditado "quando não se sabe até se gosta".

Mas os tempos mudaram. A condição sanitária das populações bravias adulterou-se devido ao progresso tecnológico que trouxe consigo a  utilização de químicos na agricultura, ao controle (diminuição) dos predadores naturais que frequentemente evitavam a propagação de muitas endemias e finalmente porque a necessidade de ter  muita caça deu origem criações intensivas disparatadas. Por outro lado a sobrepopulação de algumas regiões no que se refere às espécies de caça maior fez retornar a tuberculose e outras doenças.

 

Para além destes factos algumas alterações legislativas recentes levaram á generalização do conceito de mata-pendura para as espécies de caça maior caçadas de montaria e de batida. E se antes o termo só era conhecido e adequado para a caça menor, agora a dificuldade de comercializar postos para estas jornadas levou à generalização do conceito. E através dele o caçador médio, de poucos recursos, que normalmente não podia participar em montarias, descobre a solução para o seu problema: vai á montaria e se tem a sorte de cobrar algum animal carrega-o consigo e ao chegar à área da residência vende-o inteiro ou em parte para algum restaurante e compensa assim uma percentagem significativa da despesa realizada para participar naquela jornada.

Ora, se comercializa a carcaça do animal inteira ou só parte sem a mesma ter sido analisada, está a cometer um eventual crime de saúde pública. Se por sua vez não o faz e a consome com a sua própria família e amigos então está a pôr em risco a sua própria saúde e a de todos aqueles que com ele privam.

 

A única forma de evitar este risco é realizar a análise veterinária das carcaças dos animais abatidos. E se para as espécies de caça menor esta análise é relativamente fácil, para a espécies da maior a questão é muito diferente pois muitas são as doenças possíveis e logo outros tantos os riscos que se correm.

O ideal é que as inspecções sanitárias (assim se chamam) seja efectuadas pelos veterinários municipais e até há bem pouco tempo a legislação em vigor atribuía-lhes esta obrigação. Mas por desconhecimento de uns, má vontade de outros ou até por verdadeira indisponibilidade o que é certo é que poucos são os que participam nesta tarefa.

Mas o caçador não pode desculpar-se com esta situação para que nada se faça. E a exemplo de outros países desta nossa Europa Comunitária, a solução passa pela formação prestada a gestores e caçadores em geral para que parte do problema possa ser ultrapassado. Trata-se assim da chamada  inspecção de primeiro nível.

 

É então este o objectivo deste tema: facilitar ao caçador médio um guia de práticas que lhe permita fazer uma inspecção sanitária não profissional mas facilitadora do conhecimento do que se encontra apto para consumo e do que se não deve, de forma alguma, consumir.

Para tanto  adaptámos uma publicação francesa emitida pela Federation Nacional des Chasseurs de França e traduziu-se um conjunto de quadros guia que devem ser seguidos com rigor através das diferentes etapas.

 

Para facilitar a análise consideram-se apenas dois destinos da carne: a sala de desmanche prevista na lei ou a venda directa, sendo que o consumo pessoal deve estar considerado na mesma tipologia/linha de actuação da da sala de desmanche.

 

Se ainda assim subsistirem dúvidas deve ser pedida a colaboração de um veterinário e na impossibilidade desta deverá proceder-se à destruição e enterramento das carcaças.

 

Como utilizar os quadros informativos ?

 

Poderá imprimi-los e afixá-los na parede do local usual  de concentração/encontro dos caçadores da sua zona zona de caça Associativa ou Municipal. No caso das Zonas de Caça Turísticas partimos do principio que haverá sempre um veterinário disponível mas caso contrário poderá proceder do mesmo modo ou seja afixação na parede do local onde normalmente se expõem os quadros de caça seja ela menor ou maior.

Para mais fácil impressão disponibilizam-se os respectivos ficheiros, em separado e formato PDF, no fim da presente página.

 

 

 EXAME EXTERNO DE ESPÉCIES DE CAÇA MENOR

Estado geral do Animal, Pele, Membros e extremidades

 

 

Exame Normal

 EXAME EXTERNO REVELANDO QUALQUER TIPO DE ANOMALIA

 Nódulos, Bolhas, Olhos Inchados

Espaços sem penas, Crostas,  Sangue

 Magreza extrema

COELHO/LEBRE

AVES

AVES

AVES/COELHOS

  

Causa: Mixomatose

Causa: Varíola

Causa: Piolhos

Causa: Múltiplas

 Consumo e Venda

 CONSUMO

 VENDA

 CONSUMO

 VENDA

 CONSUMO

 VENDA

 CONSUMO

 VENDA

 

SIM 

 

 

 

NÃO

 

NÃO

 

NÃO

 

NÃO

 

NÃO

 

NÃO

 

NÃO

 

NÃO

 


 

 

                        EXAME DE CARCAÇAS DE ESPÉCIES DE CAÇA MAIOR

 1

EXAME EXTERNO:  Estado geral do animal, da pele, dos membros e das extremidades

EXAME

NORMAL

                                    EXAME EXTERNO QUE REVELE QUALQUER ANOMALIA  

 

 

 

Continuar para a análise interna da carcaça

Presença de parasitas manifestada por:

 

Abcessos, nódulos grandes ou bolhas múltiplas

 

Ferimentos vários, infectados

 

Fracturas recentes com hematomas

Nódulos múltiplos no dorso

Ex: Larvas

Áreas peladas com ou sem crostas

Ex: Sarna, micose, etc

 

Presença de Carraças

Sala Desmanche

Comércio

Sala Desmanche

Comércio

Sala Desmanche

Comércio

Sala Desmanche

Comércio

Sala Desmanche

Comércio

Sala Desmanche

Comércio

 

SIM

 

NÃO 

 

SIM

 

SIM

 

SIM

 

SIM

 

SIM

 

NÃO

 

SIM

 

NÃO

 

SIM

 

NÃO

 

 

2                                                      EXAME  INTERNO  DA  CARCAÇA

EXAME

NORMAL

                         EXAME INTERNO DA  CARCAÇA  QUE REVELE QUALQUER ANOMALIA  

 

 

 

Continuar para a análise do tubo digestivo

Magreza extrema

 

Cor anormal das cavidades

Sujeira anormal

Causas múltiplas  PERIGO

Causa: Evisceração Tardia

 Ex: Tiro de Pança

Evisceração Incorrecta com perfuração intestinos

Sala Desmanche

Comércio

Sala Desmanche

Comércio

Sala Desmanche

Comércio

Sala Desmanche

Comércio

 

NÃO

 

NÃO

 

NÃO

 

NÃO

 

NÃO

 

NÃO

 

NÃO

 

NÃO

                     

 

3                                                    EXAME  DO TUBO DIGESTIVO

EXAME

NORMAL

                                    EXAME DO TUBO DIGESTIVO  QUE REVELE QUALQUER ANOMALIA  

 

 

 

Continuar para a análise dos Pulmões

Aspecto anormal e mau cheiro

Hematomas

Gânglios mesentéricos anormais

Um ou vários abcessos

 

Causas: Evisceração tardia ou

animal morto há muito tempo

 

Causa: fenómenos patológicos ou

intoxicações

PERIGO

Risco de Tuberculose

Avisar DGV

 

PERIGO

Risco de Tuberculose

Avisar DGV

 

Sala Desmanche

Comércio

Sala Desmanche

Comércio

Sala Desmanche

Comércio

Sala Desmanche

Comércio

 

NÃO

 

NÃO

 

NÃO

 

NÃO

 

NÃO

 

NÃO

 

NÃO

 

NÃO

 

 

4                                                                                                   EXAME  DOS PULMÕES

EXAME

NORMAL

                                    EXAME DOS PULMÕES  QUE REVELE QUALQUER ANOMALIA  

 

 

 

 

Continuar para a análise do Fígado

Vários abcessos ou quistos

Nódulos nos Pulmões

Zonas com presença de parasitas

Extremidades pulmonares endurecidas e escuras em alguns locais

PERIGO

Risco de Tuberculose

Avisar DGV

 

Não perfurar

Não consumir os pulmões

Não dar como alimento a carnívoros

 

Não consumir os pulmões

 

 

Não consumir os pulmões

 

Sala Desmanche

Comércio

Sala Desmanche

Comércio

Sala Desmanche

Comércio

Sala Desmanche

Comércio

 

NÃO

 

NÃO

 

SIM

 

SIM

 

SIM

 

SIM

 

SIM

 

SIM

 

 

5                                                               EXAME  DO FÍGADO

EXAME

NORMAL

                  EXAME DO FÍGADO  QUE REVELE QUALQUER ANOMALIA  

 

  

 

 

Continuar para a análise do Coração

Abcessos múltiplos

Nódulos ou bolhas

Áreas com parasitas

PERIGO

Risco de Tuberculose

Avisar DGV

Não dar a  carnívoros

 

 

Não perfurar

Não consumir o fígado

Não dar como alimento a carnívoros

 

 

Não consumir o fígado

 

Sala Desmanche

Comércio

Sala Desmanche

Comércio

Sala Desmanche

Comércio

 

NÃO

 

NÃO

 

SIM

 

SIM

 

SIM

 

SIM

 

 

6                                    EXAME  DO CORAÇÃO

EXAME

NORMAL

          EXAME DO CORAÇÃO  QUE REVELE QUALQUER ANOMALIA  

EXAME INICIAL TERMINADO

  

 

CONSUMO E VENDA

SIM

Não da

 Não consumir o coração

Não dar como alimento a carnívoros

Sala Desmanche

Comércio

 

NÃO

 

NÃO

 

                                                                                                                                                      

CAÇA MAIOR

  CAÇA MENOR